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Cabo Getulio Vargas serve exército em Corumbá




Cabo Getúlio Vargas, do 25 de Infantaria de Porto Alegre

 

Ante a ameaça de invasão da fronteira por forças bolivianas, tropas do exército brasileiro chegam a Corumbá, em 10 de março de 1903, sob o comando do general João Cezar Sampaio. São os batalhões 16, 25 e 29 de Infantaria, de Porto Alegre, que reunidos ao 21 de Infantaria e ao 2º. de artilharia locais, constituem um efetivo de dois mil homens. Integrante do 25 de Porto Alegre, fazia parte das tropas o cabo Getúlio Vargas.¹ A concentração de forças em Corumbá esteve ligada à questão do Acre, permaneceram na cidade até o mês de abril do ano seguinte e enquanto estiveram na cidade exerceram função policial, conforme constata Estêvão de Mendonça:

Nos primeiros dias de sua chegada observam que, durante a noite, a cidade era ponteada por sucessivas detonações, cujos projetis passavam por vezes sobre o hotel Internacional, em que se hospedara. Encontrou por esta forma a exposição do aspecto taciturno das ruas à proporção que a noite avançava. Determinou um patrulhamento rigoroso, sem excessos. Em pouco tempo a cidade oferecia outro aspecto, sendo as principais artérias percorridas por cavalheiros e senhoras durante as primeiras horas da noite.²

Sobre Getúlio Vargas nessa missão, narra-o seu conterrâneo Mário Lima Beck:

Nas fileiras desse batalhão alinhava-se um cabo de esquadra, um moço, baixo, rotundo e risonho, que trinta anos depois seria o chefe discricionário da nação!

Punidos por insubordinação, Getúlio Vargas e outros cadetes são desligados da Escola Militar de Rio Pardo e incorporados ao 25° B.I. Todos são enviados para a "Sibéria canicular do nosso exército" como Euclides da Cunha chamava naquele tempo a Mato Grosso. 

Tropa de elite criou logo grande círculo de simpatias na cidade matogrossense. O cabo Getúlio tornou-se em breve assaz conhecido. Embora aparentemente quietarrão e frio, sabia cativar pela educação gentil e maneirosa. As vezes parecia inacessível e de repente viam-no na maior camaradagem entre os soldados. Simulava imperturbável seriedade e logo participava gostosamente duma pândega. Nunca porém, perdeu compostura e equilíbrio...Hábil dosador de pragmatismo. Fingia, dizem, indiferença às mulheres e elas se interessavam por ele. Contam que uma jovem corumbaense dedicou-lhe acendrada paixão.

Sabia comandar com senso e oportunidade. Em todas as circunstâncias era raciocinador tranquilo. Calculista sistemático em todos os rumos de sua conduta. Já naquela época a psicologia do cabo Getúlio Vargas, exibia matizes curiosos, que intrigariam a um Lazurski e outros estudiosos da individualidade humana. Em setembro do mesmo ano, promovido a sargento, Getúlio regressa a Porto Alegre. 

FONTE: ¹Esther de Viveiros, Rondon conta sua vida, Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio, 1969, página 169, ²Estêvão de Mendonça, Datas Matogrossenses, (2a. edição) Governo de Mato Grosso, Cuiabá, 1973, página 123 e Mario Lima Beck, Nova Querência, Livraria Selbach, Porto Alegre, 1935, página 53.
FOTO: reprodução. Meramente ilustrativa.

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