A caminho do exílio na Bolívia, grupo da Coluna Prestes, comandado pelo capitão Siqueira Campos (o segundo à esquerda, sentado), chega ao Pantanal da Nhecolândia, em dezembro de 1926, conforme sucinto relato de Augusto César Proença:
No Pantanal ela provocou medo e pânico. José de Barros registra no seu diário:
"Dezembro, 6-1926. Passagem dos revoltosos pela Fazenda Firme, onde destruíram o aparelho de estação telegráfica e saquearam as duas casas de negócio (sic). Grande pânico nas famílias da Nhecolândia por esse fato. (...)". Os ‘revortoso’ chegavam sempre atirando para cima, é verdade, pois não faziam nada a ninguém caso não pisassem nos seus calos, atiravam para intimidar as pessoas das fazendas e conseguir logo o que desejavam. Na fazenda Alegria deu-se um caso curioso: meu avô, homem aperreado das idéias, estava ali pelo pátio, fazendo alguma coisa, quando escutou tiros e viu o bando armado se aproximando.
- Sai daí seu Paulino, são os ‘revortoso’! Disse alguém correndo para dentro da casa.
Mas o velho, onde estava ficou. E até resolveu seguir para enfrentar os intrusos que ainda atiravam, provocando choradeira nas mulheres e nas crianças e correria em certos homens que se embrenhavam no mato mais próximo, xixindo de medo.
- Quem são vocês?... indagou o meu avô, ríspido, os olhos lacrimejando de raiva.
Os homens explicaram o que queriam, talvez imaginando fosse o meu avô algum variado que os enfrentava com ousadia. Perguntaram: "E o senhor que é?..."
- Sou o dono daqui. E parem de atirar. Não vê que estão assustando as mulheres e as crianças?
"Dezembro, 6-1926. Passagem dos revoltosos pela Fazenda Firme, onde destruíram o aparelho de estação telegráfica e saquearam as duas casas de negócio (sic). Grande pânico nas famílias da Nhecolândia por esse fato. (...)". Os ‘revortoso’ chegavam sempre atirando para cima, é verdade, pois não faziam nada a ninguém caso não pisassem nos seus calos, atiravam para intimidar as pessoas das fazendas e conseguir logo o que desejavam. Na fazenda Alegria deu-se um caso curioso: meu avô, homem aperreado das idéias, estava ali pelo pátio, fazendo alguma coisa, quando escutou tiros e viu o bando armado se aproximando.
- Sai daí seu Paulino, são os ‘revortoso’! Disse alguém correndo para dentro da casa.
Mas o velho, onde estava ficou. E até resolveu seguir para enfrentar os intrusos que ainda atiravam, provocando choradeira nas mulheres e nas crianças e correria em certos homens que se embrenhavam no mato mais próximo, xixindo de medo.
- Quem são vocês?... indagou o meu avô, ríspido, os olhos lacrimejando de raiva.
Os homens explicaram o que queriam, talvez imaginando fosse o meu avô algum variado que os enfrentava com ousadia. Perguntaram: "E o senhor que é?..."
- Sou o dono daqui. E parem de atirar. Não vê que estão assustando as mulheres e as crianças?
Naquele
dia os revoltosos levaram os cavalos, mantimentos e dinheiro, mas não deixaram
de respeitar o dono da fazenda.¹
Ainda sobre esta passagem do comandante Siqueira Campos pelo Pantanal, o jornal A Manhã, do Rio de Janeiro, transcreveu do jornal A Tribuna, de Corumbá, entrevista de Joaquim Vieira, ex-prisioneiro dos revoltosos:
Chegou ontem da fazenda Triunfo, de propriedade do dr. Pires de Oliveira, o sr. Joaquim Vieira,que, em viagem para Porto Jofre, foi aprisionado por uma coluna revolucionária em operações no Sudoeste do Estado sob o comando do coronel Siqueira Campos.
Procurado por nós para uma entrevista hoje pela manhã, o sr. Joaquim Vieira foi solícito em nos atender, prontificando-se, desde logo, a nos prestar algumas informações, relatando-nos em todos os seus detalhes as peripécias por que passou nos acontecimentos em que se viu involuntariamente envolvido.
Eis como ele descreve o aprisionamento do "Agachi":
"Era no dia 11 do corrente. Seriam mais ou menos 23 horas. A Agachi, lancha de propriedade do sr. Miguel Cattas, navegava rumo à capital do Estado, quando passageiros e tripulantes foram despertados, ex-abrupto, por uma descarga de fuzis Mauser, ouvindo-se, a seguir gritos de pára! atraca!
O nosso entrevistado que era o único passageiro que dormia fora do camarote, despertou de pronto, assim como toda a tripulação da lancha, sendo a mesma atracada à margem do rio.
Lançada a prancha, logo um grupo de oficiais revolucionários invadiu a embarcação, entrando em entendimento com o seu comandante, que era o mesmo properietário.
Incontinenti, foram todos presos e revistados, sendo feita uma pequena requisição de víveres de primeira necessidade, como arroz, farinha, açúcar, café, etc.
De cigarros, porém,é que faziam mais questão.
Foram, então, inutilizadas algumas peças de máquinas e definitivamente se apoderaram de toda a lancha.
Até ali o nosso entrevistado mantinha-se em expectativa, logo, porém, foi chamado à presença do coronel Siqueira Campos, que lhe pediu o favor de guiar até Triunfo (a frase é autêntica) onde arranjariam outro prático.
Acedendo ao pedido, o sr. Vieira pôs-se à disposição do comandante da coluna,que nessa ocasião lhe comprou um par de botas por 100$, não os aceitando como dádiva.
Feito o pouso naquele mesmo lugar, no dia seguinte, 2, portanto, pôs-se em forma a coluna e seguiu para Triunfo, deixando no local alguns homens para garantir a retaguarda.
Chegados a Triunfo, no dia 3, às 9 horas, foram recebidos pelo seu proprietário, dr. Pires de Oliveira, que lhes ofereceu hospitalidade. Aceita esta, ali permaneceram algumas horas, durante as quais saborearam apetitoso churrasco, feito na hora pelos empregados da fazenda.
Antes de continuarem a marcha rumo à zona do Taquari, pediu o coronel Siqueira Campos um prático da região, pois dizia que ali desobrigaria o nosso entrevistado, visto como lhe pedira guiá-lo somente até aquele ponto.
Como não tivesse o dr. Pires um vaqueano daquela zona, ofereceu-se pessoalmente, levá-los até Ipiranga, propriedade do coronel Severo, o que foi aceito.
Antes de partirem com esse rumo deram ao nosso entrevistado três bons cavalos, para viagem até esta cidade, dizendo-lhe ainda que haviam deixado em ponto determinado, regular número de animais para engorda, dos quais podia o sr. Joaquim fazer o uso que lhe conviesse. E assim aconteceu.
Terminou o sr. Vieira dizendo-nos que havia sido muito bem tratado por essa força e que o seu número atingia a 130 homens.²
Ainda sobre esta passagem do comandante Siqueira Campos pelo Pantanal, o jornal A Manhã, do Rio de Janeiro, transcreveu do jornal A Tribuna, de Corumbá, entrevista de Joaquim Vieira, ex-prisioneiro dos revoltosos:
Chegou ontem da fazenda Triunfo, de propriedade do dr. Pires de Oliveira, o sr. Joaquim Vieira,que, em viagem para Porto Jofre, foi aprisionado por uma coluna revolucionária em operações no Sudoeste do Estado sob o comando do coronel Siqueira Campos.
Procurado por nós para uma entrevista hoje pela manhã, o sr. Joaquim Vieira foi solícito em nos atender, prontificando-se, desde logo, a nos prestar algumas informações, relatando-nos em todos os seus detalhes as peripécias por que passou nos acontecimentos em que se viu involuntariamente envolvido.
Eis como ele descreve o aprisionamento do "Agachi":
"Era no dia 11 do corrente. Seriam mais ou menos 23 horas. A Agachi, lancha de propriedade do sr. Miguel Cattas, navegava rumo à capital do Estado, quando passageiros e tripulantes foram despertados, ex-abrupto, por uma descarga de fuzis Mauser, ouvindo-se, a seguir gritos de pára! atraca!
O nosso entrevistado que era o único passageiro que dormia fora do camarote, despertou de pronto, assim como toda a tripulação da lancha, sendo a mesma atracada à margem do rio.
Lançada a prancha, logo um grupo de oficiais revolucionários invadiu a embarcação, entrando em entendimento com o seu comandante, que era o mesmo properietário.
Incontinenti, foram todos presos e revistados, sendo feita uma pequena requisição de víveres de primeira necessidade, como arroz, farinha, açúcar, café, etc.
De cigarros, porém,é que faziam mais questão.
Foram, então, inutilizadas algumas peças de máquinas e definitivamente se apoderaram de toda a lancha.
Até ali o nosso entrevistado mantinha-se em expectativa, logo, porém, foi chamado à presença do coronel Siqueira Campos, que lhe pediu o favor de guiar até Triunfo (a frase é autêntica) onde arranjariam outro prático.
Acedendo ao pedido, o sr. Vieira pôs-se à disposição do comandante da coluna,que nessa ocasião lhe comprou um par de botas por 100$, não os aceitando como dádiva.
Feito o pouso naquele mesmo lugar, no dia seguinte, 2, portanto, pôs-se em forma a coluna e seguiu para Triunfo, deixando no local alguns homens para garantir a retaguarda.
Chegados a Triunfo, no dia 3, às 9 horas, foram recebidos pelo seu proprietário, dr. Pires de Oliveira, que lhes ofereceu hospitalidade. Aceita esta, ali permaneceram algumas horas, durante as quais saborearam apetitoso churrasco, feito na hora pelos empregados da fazenda.
Antes de continuarem a marcha rumo à zona do Taquari, pediu o coronel Siqueira Campos um prático da região, pois dizia que ali desobrigaria o nosso entrevistado, visto como lhe pedira guiá-lo somente até aquele ponto.
Como não tivesse o dr. Pires um vaqueano daquela zona, ofereceu-se pessoalmente, levá-los até Ipiranga, propriedade do coronel Severo, o que foi aceito.
Antes de partirem com esse rumo deram ao nosso entrevistado três bons cavalos, para viagem até esta cidade, dizendo-lhe ainda que haviam deixado em ponto determinado, regular número de animais para engorda, dos quais podia o sr. Joaquim fazer o uso que lhe conviesse. E assim aconteceu.
Terminou o sr. Vieira dizendo-nos que havia sido muito bem tratado por essa força e que o seu número atingia a 130 homens.²
FONTE: ¹Augusto César Proença, Pantanal: gente, tradição e história, Fundação de Cultura, Campo Grande, 1992, página 133. ²Jornal A Manhã (RJ), 19 de janeiro de 1927.
FOTO - acervo da Biblioteca Nacional (RJ).
FOTO - acervo da Biblioteca Nacional (RJ).
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