Pular para o conteúdo principal

Corumbá recebe visita do presidente Getúlio Vargas



"Corumba, 28 (A.N.) - o 'Looked 05', pilotado pelo capitão Nero Moura, conduzindo o presidente Getúlio Vargas, acaba de descer nesta cidade. São precisamente 18.20 horas. O chefe do Governo foi recebido pelo interventor Júlio Müller, general Pinto Guedes e outras altas autoridades civis e militares. Estão sendo prestadas a S. Excia. calorosas homenagens". Assim o Jornal do Brasil (RJ) registra o desembarque do presidente na cidade branca, em 28 de julho de 1941, na sequencia de ampla reportagem, com dados da Agência Nacional) da visita histórica de um primeiro chefe da nação ao município, iniciada com o clima reinante antes da chegada do presidente:

Corumbá preparou-se ativamente para receber o sr. Getúlio Vargas, o primeiro presidente da República que a visista. As ruas estão engalanadas com bandeiras e flâmulas brasileiras e bolivianas; preparou-se uma iluminação caprichosa e esta profusão de preparativos dá à longínqua cidade de Mato Grosso um aspecto festivo, próprio de uma solenidade dessa natureza. Os hoteis estão repletos, as residências particulares cheias de visitantes ilustres, os automóveis todos todos ocupados para os dias de permanência de S. Ex. Nota-se assim um movimento desusado sendo uníssonos os comentários em torno da personalidade do presidente, que realiza a marcha para o Oeste, entre inexcedíveis manifestações de estima e apreço para o grande dirigente do Brasil. Acham-se em Corumbá o ministro Aristides Guilhem, o interventor Júlio Müller, ministro Davi Alvestegni, da Bolívia, convidado especial do governo do Brasil; general Mário Pinto Guedes, comandante da 9a. Região Militar; introdutor diplomático Lauro Müller Filho, além de numerosos prefeitos dos municípios do Estado, autoridades federais, estaduais e municipais.


Ressalta dos comentários o grande empreendimento da Estrada de Ferro Brasil-Bolívia, construída pela Comissão Mixta Ferroviária que impulsionará o progresso do país vizinho paralelamente ao de uma rica região brasileira.


Mais adiante o jornal carioca passa a ocupar-se da presença do presidente em solo pantaneiro:


Esta cidade recebeu entre as mais calorosas manifestações de apreço e simpatia o presidente Getúlio Vargas. Depois de ser saudado no aeroporto pelo interventor Júlio Müller, o chefe do governo dirigiu-se para o Palácio do Estado, sendo durante todo o percurso, ovacionado pela massa popular. Da sacada do palácio, S.Ex. assistiu o desfile escolar para, em seguida, no salão nobre, receber os cumprimentos das altas autoridades federais, estaduais e municipais.


De todos os pontos de Mato Grosso têm chegado ao sr. Getúlio Vargas numerosas mensagens de saudação e boas vindas, numa significativa exaltação à marcha para o Oeste. 


Uma das principais agendas da visita de Getúlio a Corumbá foi o encontro protocolar do presidente brasileiro com o ministro das relações exteriores da Bolívia, Alberto Ostria Gutierrez, em Arroyo Concepcion, território boliviano na "Ponta dos Trilhos", da ferrovia Brasil - Bolívia, a 70 quilômetros de Corumbá.


O prefeito da cidade, Otávio da Costa Marques, ouvido pela Agência Nacional, resumiu a importância da visita presidencial:


Corumbá vive instantes inesquecíveis e de grande vibração patriótica. Engalana-se para receber com verdadeiro entusiasmo cívico o eminente presidente da República, visita que representa acontecimento de alta significação, sem dúvida o mais eloquente de toda sua vida republicana.


Pela primeira vez, Mato Grosso tem a honra de homenagear, em pessoa, o chefe da nação. Esta oportunidade é a afirmação vitoriosa da "Marcha para o Oeste, que vem integrar o sertão esquecido e abandonado, ao Brasil Novo, palpitante de fé e de esperança nos destinos da nacionalidade. É grande a minha satisfação em encontrar-me, neste momento auspicioso, na superintendência dos negócios municipais de Corumbá, para, assim, ter a honra de juntar o meu decidido apoio, a minha colaboração e justa homenagem na recepção ao Chefe da Nação. É propósito do meu prezado amigo, sr. Júlio Müller dar à visita presidencial a melhor demonstração de carinho e de reconhecimento ao eminente presidente, por tudo que já tem feito em prol do nosso Estado e, assim, estou certo, Corumbá terá ocasião de manifestar que não discrepa uma linha desse sadio objetivo o qual, aliás, é o mesmo que anima todo o Estado nesse memorável momento de sua vida.


O presidente estendeu sua viagem até Assunção, no Paraguai, e Campo Grande, encerrando o longo percurso em Cuiabá, de onde retornou ao Rio de Janeiro, no dia 8 de agosto seguinte.



FONTE: Jornal do Brasil (RJ), 29 de julho de 1941.


FOTO: acervo da Fundação Getúlio Vargas.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Nascimento de Jorapimo

Nasce em Corumbá, em 24 de novembro de 1937, José Ramos Pinto Moreira, que se tornaria conhecido como Jorapimo. Uma das maiores expressões das artes plásticas em Mato Grosso do Sul, Jorapimo tem como temática preferida o Pantanal: A obra de Jorapimo confunde-se com a história da arte de Mato Grosso do Sul nas suas origens e desenvolvimento. Dominando uma linguagem voltada para o modelo natural, de composição imaginária, ainda que assentada em rigorosa base geométrica, Jorapimo constrói uma obra simples, que atinge diretamente o espectador, na sua capacidade de transformar os signos comuns do entendimento em imagens inesperadas, singularizadas. Desse modo, o artista dos seres do Pantanal reformula sua visão do universo limitado, revestindo-o de novas tonalidades. O Casario do Porto de Corumbá pode ser visto em imagens contrapostas pela luminosidade intensa do sol ou pela ausência dessa mesma luz, a partir de diversos ângulos, renovando-as a cada representação. Os pescador

Fundada a fazenda Firme no Pantanal de Nhecolândia

Busto de Nheco em Corumbá O cacerense Joaquim Eugênio Gomes da Silva, Nheco, funda em 11 de março de 1880, a fazenda Firme, no município de Corumbá. A notícia é de Augusto César Proença, descendente do fundador:   "O local era uma tapera suja de bamburros e caraguatás. Tinha alguns esteios fincados, cobertos por ervas daninhas, cruzes espalhadas dentro do capão, cacos de telhas, ossos de animais, pedaços de potes de barros. Tinha também uma figueira copada no meio do lago macegoso e alagado, ao lado da qual Nheco e os camaradas fizeram um poço, muito mais tarde durante um período de seca. A história dessa fazenda começa aqui. Não é história de luta armada para conquista de uma terra. Não é a história de ambições desmedidas, de mando, de poder, de extermínio. Será mais uma história de bravura, de desapego ao conforto e à comodidade que as cidades ofereciam àquela época. Será a história de uma gente simples nos seus dizeres e fazeres. Otimista para enfrentar um ambiente tão ru

Nasce Nicolau Fragelli

Em 13 de novembro de 1884, nasce em Corumbá, Nicolau Fragelli. Filho de José Fragelli e Tereza Provenzano Fragelli, de origem italiana. Fez o curso primário em sua cidade natal e o secundário em Cuiabá. Aos 19 anos matriculou-se na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, formando-se em 1911, aperfeiçoando-se em Paris em 1914. Iniciou na política em 1918, elegendo-se deputado estadual na gestão de Dom Aquino Correa, no governo. Em 14 de agosto do mesmo ano é nomeado intendente geral (prefeito) de Corumbá, para superar crise política local.  Deputado até 1930, quando teve o mandato cassado pela revolução getulista, retorna à política em 1934, reconduzido à Assembléia Legislativa pelo Partido Evolucionista. O golpe do Estado Novo, em 1937, retira-lhe novamente o mandato. Em 1945, com a redemocratização, ingressa na UDN, União Democrática Nacional, e vence sua última eleição, a de suplente de senador. Sobre ele escreve Nilo Povoas: A vida pública de Nicolau Fragelli foi