Pular para o conteúdo principal

Chegam a Corumbá os primeiros navios brasileiros

 

 

Restabelecida a navegação do Rio Paraguai, com a ocupação de Assunção pelas forças aliadas em 5 de janeiro de 1869, chega a Corumbá, no dia 25, com destino à Cuiabá, a primeira frota brasileira, composta das seguintes embarcações: Henrique Martins, Fernando Vieira, Henrique Dias, Felipe Camarão e Ivay.

A frota deixou a capital paraguaia em 15 de janeiro, sob o comando do 1° tenente Manoel José Alves Barbosa. Em Corumbá foi recebido pelo tenente-coronel Antonio Maria Coelho, comandante do distrito militar. Os detalhes estão no relatório do tenente aos seus superiores:

"Janeiro 25 - Às 5 horas da manhã suspenderam os navios. A 1 hora da tarde passaram em frente da vila de Albuquerque.

Em um rancho que aí existe no porto, e onde, como depois constou-nos, deviam achar-se algumas praças pertencentes ao destacamento de Corumbá, nem uma só pessoa foi vista.

O inesperado aparecimento dos vapores, antes que houvesse tempo de reconhecer a bandeira nacional arvorada no tope grande de cada um deles, fez concentrar-se aquela pequena guarda, de cujo comandante partia imediatamente o mais rápido aviso para Corumbá onde chegou pouco depois de terem aí os vapores fundeado.

Não nos foi possível julgar do estado dessa vila, um pouco interior, senão por ouvir dizer em Corumbá, ter sido a mesma completamente destruída pelo inimigo, e incendiado o aldeamento da tribo Guanás, que aí existia.

A algumas horas acima de Albuquerque foi ainda encontrada uma canoa, que parecia recentemente abandonada ao avistarem os vapores que nela vinham, como depois constou-nos ao chegar em Corumbá.

Ao avistar-se a cidade parecia igualmente abandonada, não obstante, para desvanecer qualquer suspeita, os navios aí se apresentaram com seus competentes faróis e um sinal de tigelinha foi feito pelo Felipe Camarão, que chegou ao porto em primeiro lugar.

A este sinal ouvia-se perguntar que vapores eram aqueles; ao que respondendo-se serem brasileiros, e que traziam a notícia da terminação da guerra, trocaram-se e repetidos vivas entre os navios e a terra.

Dirigimo-nos imediatamente para aí, onde encontramos alguns oficiais que vinham cumprimentar os de bordo, da parte do comandante daquela praça, o sr. tenente-coronel Antonio Maria Coelho.

Soubemos então,que, ao avistarem os vapores, a guarnição da cidade, composta de 200 homens ao mando do mencionado tenente-coronel, se havia posto em alarma; e estivera prestes a romper o fogo sobre eles, quando os sinais de bordo fizeram crer que éramos nacionais.

Apresentando-me ao comandante da força, entreguei-lhe um boletim dos últimos acontecimentos do teatro da guerra, e comuniquei-lhe o fim daquela comissão, pedindo houvesse de providenciar sobre o que nos era necessário para continuar no outro dia, visto não encontrar-se naquele porto vapor algum para Corumbá.

Prontamente e com a maior solicitude mandou o sr. tenente-coronel que nessa mesma noite se preparasse alguma lancha; e sendo-lhe mais requisitado um prático do rio, ordenou que duas das praças de seu comando seguissem a bordo nessa qualidade.

A cidade cuja população apenas se compunha da guarnição militar, mostrava por toda parte a inexorável crueldade do inimigo: a ruína total dos edifícios públicos, as formas incompletas das habitações demolidas, os restos do incêndio e o mato que fora deixado à discrição da natureza, formavam o mais estranho e doloroso contraste.

No intuito de prevenir a inquietação que podia despertar na capital a aproximação dos vapores, fez o sr. tenente-coronel embarcar um próprio, o qual, deixado no lugar denominado Cassange, seguisse a toda pressa com as comunicações de sua parte".

No dia seguinte, "às 11 horas e 30 minutos da manhã, achando-se os mesmos providos de fresco, tendo embarcado os práticos e recebido alguma lenha, desaferraram do porto da cidade de Corumbá com destino ao da capital da província".

 

FONTEDiário do Rio de Janeiro, 17 de março de 1869. 


FOTO: reprodução. Imagem meramente ilustrativa.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Nascimento de Jorapimo

Nasce em Corumbá, em 24 de novembro de 1937, José Ramos Pinto Moreira, que se tornaria conhecido como Jorapimo. Uma das maiores expressões das artes plásticas em Mato Grosso do Sul, Jorapimo tem como temática preferida o Pantanal: A obra de Jorapimo confunde-se com a história da arte de Mato Grosso do Sul nas suas origens e desenvolvimento. Dominando uma linguagem voltada para o modelo natural, de composição imaginária, ainda que assentada em rigorosa base geométrica, Jorapimo constrói uma obra simples, que atinge diretamente o espectador, na sua capacidade de transformar os signos comuns do entendimento em imagens inesperadas, singularizadas. Desse modo, o artista dos seres do Pantanal reformula sua visão do universo limitado, revestindo-o de novas tonalidades. O Casario do Porto de Corumbá pode ser visto em imagens contrapostas pela luminosidade intensa do sol ou pela ausência dessa mesma luz, a partir de diversos ângulos, renovando-as a cada representação. Os pescador

Fundada a fazenda Firme no Pantanal de Nhecolândia

Busto de Nheco em Corumbá O cacerense Joaquim Eugênio Gomes da Silva, Nheco, funda em 11 de março de 1880, a fazenda Firme, no município de Corumbá. A notícia é de Augusto César Proença, descendente do fundador:   "O local era uma tapera suja de bamburros e caraguatás. Tinha alguns esteios fincados, cobertos por ervas daninhas, cruzes espalhadas dentro do capão, cacos de telhas, ossos de animais, pedaços de potes de barros. Tinha também uma figueira copada no meio do lago macegoso e alagado, ao lado da qual Nheco e os camaradas fizeram um poço, muito mais tarde durante um período de seca. A história dessa fazenda começa aqui. Não é história de luta armada para conquista de uma terra. Não é a história de ambições desmedidas, de mando, de poder, de extermínio. Será mais uma história de bravura, de desapego ao conforto e à comodidade que as cidades ofereciam àquela época. Será a história de uma gente simples nos seus dizeres e fazeres. Otimista para enfrentar um ambiente tão ru

Nasce Nicolau Fragelli

Em 13 de novembro de 1884, nasce em Corumbá, Nicolau Fragelli. Filho de José Fragelli e Tereza Provenzano Fragelli, de origem italiana. Fez o curso primário em sua cidade natal e o secundário em Cuiabá. Aos 19 anos matriculou-se na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, formando-se em 1911, aperfeiçoando-se em Paris em 1914. Iniciou na política em 1918, elegendo-se deputado estadual na gestão de Dom Aquino Correa, no governo. Em 14 de agosto do mesmo ano é nomeado intendente geral (prefeito) de Corumbá, para superar crise política local.  Deputado até 1930, quando teve o mandato cassado pela revolução getulista, retorna à política em 1934, reconduzido à Assembléia Legislativa pelo Partido Evolucionista. O golpe do Estado Novo, em 1937, retira-lhe novamente o mandato. Em 1945, com a redemocratização, ingressa na UDN, União Democrática Nacional, e vence sua última eleição, a de suplente de senador. Sobre ele escreve Nilo Povoas: A vida pública de Nicolau Fragelli foi